Correios, um Patrimônio Nacional

Por: Jean Dantas - Conexões Periféricas-RP - 25/09/2020.


Apesar do descontentamento com os serviços dessa empresa, e dos discursos pejorativos, e até mesmo de ódio contra as pessoas que nela trabalham, faz-se importante ouvir o lado de quem vivencia essa experiência de trabalho, além de conhecer um pouco da História e do papel dessa empresa brasileira, para daí formarmos nossa opinião.

Fábio, trabalhador da empresa há 15 anos nos conta um pouco dessa experiência:
“Tenho 15 (quinze) anos de Correios, e vi passar gestores no alto escalão da empresa, um mais sem preparo que o outro. Infelizmente sempre indicações políticas, sem nenhum conhecimento técnico da área de logística, passaram médicos, dentistas, advogados, militares, etc.
A cada troca de gestão, se modificava o planejamento, acarretando sempre em desperdícios de recursos, além de vários casos de corrupção. Fraudes bilionárias no fundo de pensão, que inclusive um dos investigados é o atual Ministro da Economia (Paulo Guedes).
Destes 15 (quinze) anos, em apenas 3 (três) a empresa não deu lucro. Nos outros 12 (doze) anos, deram lucros exorbitantes e o tesouro nacional recolhia quase tudo, sobrando o mínimo pra ser reinvestido na empresa. Diante disso, hoje os Correios enfrentam um grande problema financeiro, a ponto de precisar de recursos pra se modernizar e se manter competitiva.
No entanto, devido ao sucateamento dos seus serviços, ela não está conseguindo levantar seu capital por conta própria. Como o governo não tem interesse em colocar (investir) dinheiro, prefere vender.
Aí vêm algumas questões importantes. Hoje os Correios só gera lucro no RJ e SP, nos outros estados não, mas onde há lucro, garante-se o serviço em todo território nacional. Canso de ver outras transportadoras captarem suas encomendas no mercado e postarem nos Correios, pois pra elas é mais barato do que efetuar a entrega.
A população as vezes acha frete caro, mas não se dá conta que sua encomenda muitas vezes vai precisar do transporte de avião, caminhão, além do pedestre (trabalhador ou trabalhadora) pra chegar no seu destino. Já cansei de entregar objetos que a DHL postou nos Correios, pois era mais caro fazer a entrega diretamente, do que postar pelos Correios.
Outro aspecto relevante, foi o aumento absurdo do roubo de cargas em todo país, que também pegou em cheio os Correios. Muitas localidades se tornaram impossível de efetuar entregas.
Em comparação a preço, os Correios tem os serviços mais baratos do que qualquer outra transportadora.
Com a privatização veremos se onde não dá lucro, será atendido pela iniciativa privada, pois nosso país é de tamanho continental, e isso é um grande obstáculo para quem só almeja o lucro, e não no atendimento das pessoas e da integração nacional.”

Além deste importante relato, vale conhecer um pouco de sua História. Por esse motivo, abordaremos a trajetória histórica e o compromisso de uma das maiores empresas nacionais em conectar pessoas, instituições e negócios.
Entre os séculos XV e XVI, incorria a expansão marítima e territorial das grandes nações europeias.
Nesse contexto, as trocas de correspondências se fizeram cada vez mais imprescindíveis.
Em 1663, Alferes João Cavaleiro Cardoso, foi nomeado assistente de correios-mor do Rio de Janeiro. Iniciando assim o serviço regular do sistema postal.
Até meados do século XIX, esse serviço administrado por Portugal possuía um alcance limitado e com pouca adesão.
Após a Independência em 1822, o Estado brasileiro dá início à elaboração de um sistema mais eficiente e que seria essencial para a conexão nacional.
Em 1835, adota-se a entrega de correspondências em domicílio. Já em 1843, foram emitidos os primeiros selos postais brasileiros, conhecidos como olhos-de-boi. Esse período – do século XIX até o século XX –, foi de significativas transformações e reformulações que otimizaram os serviços postais.

Em 1931, o governo de Getúlio Vargas realizou a junção entre a direção geral dos Correios com a repartição geral dos Telégrafos. Originava-se assim o departamento dos Correios e Telégrafos, (DCT).
O DCT operou transformações importantes para o serviço postal brasileiro, incorporando inovações e melhorias nas operações. Porém, o departamento não acompanhou o processo de desenvolvimento social e econômico do país, que ocorreria, principalmente na década de 50, o que tornou o serviço pouco eficiente e obsoleto.
Em 1969, foi criada a empresa brasileira de Correios e Telégrafos, (ECT). Empresa pública vinculada ao Ministério das Comunicações.
Essa mudança foi realizada com o intuito de transformar os Correios num agente de integração do governo federal.
O serviço postal se reestruturou, passou a oferecer serviços e produtos de acordo com as necessidades da população. Além de atuar como agente de campanhas sociais.
Nas décadas seguintes, a empresa foi se modernizando e se transformando em um dos maiores patrimônios nacionais.
No entanto, essas conquistas aconteceram através de lutas e reivindicações por parte de seus trabalhadores. Greves por melhores condições de trabalho, salário digno, modernização dos mecanismos de trabalho. Todo esse crescimento está diretamente ligado às pautas colocadas pelos seus funcionários.

Não obstante, políticas com o viés liberal ameaçam constantemente a continuidade desse atendimento universal. O atendimento realizado pelos Correios, abrange locais isolados, que demandam um trabalho de difícil execução, pois atende áreas afastadas dos centros urbanos, que não interessariam ao setor privado por não gerarem lucros.
Através de um discurso reducionista, passam uma visão deturpada para a sociedade, sob o discurso de que a empresa seria um gasto desnecessário para os cofres públicos.

Como usuários dos serviços dos Correios, reconhecemos que há problemas nos, mas o cerne de todos os problemas está no sucateamento por parte do poder público, a ineficiência de seguidas gestões, a desvalorização de seus trabalhadores.
Os Correios não são um problema nacional, pelo contrário, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, (ECT) é um dos maiores patrimônios do país.

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